segunda-feira, 31 de agosto de 2009

ANTES E AGORA

(Carlos Celso-CARCEL)


Quando fui moço pensei
numa velhice feliz
porém hoje contradiz
a minha vida e não sei
em que foi que eu errei
para envelhecer assim
de maneira tão ruim
que jamais imaginei.

Na minha mente transita
do meu passado a lembrança
lembro quando era criança
aquela fase bonita
felicidade inaudita
com muito amor e respeito
era um outro conceito
que hoje se quer imita.

Crescí, logo fui rapaz
adolescente, adulto
do passado só o vulto
é o que a memória me traz
já não me sinto capaz
de formar imagens belas
parecidas com aquelas
de alguns anos atraz.

Tudo vem se transformando
o modernismo assumindo
os seres se confundindo
famílias se dispersando
pouco estão se respeitando
nem mesmo filhos e pais
todos conceitos morais
há muito se dissipando.

Falo da felicidade
como se estivesse ausente
porque acho deprimente
meu passado de saudade
hoje só se ver maldade
os bons princípios fenecem
nem sei se muitos merecem
se chamar de humanidade.


(2009)

domingo, 30 de agosto de 2009

CONTIGO NO PENSAMENTO

(Carlos Celso-CARCEL)


Sobre o teto do meu quarto
gota por gota caía
da chuva que entre sonhos
do leito interno eu ouvia.

Sonhava mesmo acordado
com os olhos entreabertos
fitava o teto do quarto
via teu vulto de perto.

Mas a chuva persistente
a barulhar no telhado
nada me tirou da mente.

Não dormí um só momento
passei a noite em claro
contigo no pensamento.

O CRIME DA FELINA

(Carlos Celso-CARCEL)


Era um casal de periquito australiano
Ele azul claro, ela verde escuro
previa-se filhotes no futuro
porém triste tragédia trouxe o dano.

Uma felina siamês a raça
branca, astuta que na casa havia
tanto intentara que causou um dia
numa investida traiçoeira a desgraça.

Com crueldade a fêmea matou
somente o macho triste alí ficou
no seu viveiro sem acompanhante.

O azul claro empalideceu
tudo mudou depois que ela morreu
sei que ele vai lembrar a vida inteira.


(Simples historinha de um casal de pássaros que meu filho Alvinho criava e que uma gata, da nossa própria casa, um dia matou a fêmea; ficando o Alvinho triste e choroso, nasceram estes versos para seu consolo e sua lembrança.) 23/agosto/2009

AVEXADO PRA VORTÁ

Eta, terrinha querida
que me alembro toda hora
se o caba for frouxo chora
pelo restante da vida.

Um nordestino arretado
cuma eu que ama a terra
quando tá longe se emperra
pra vortá, fica avexado.

Se sai da terra é pro mode
resolvê o que num pode
sem dinheiro onde tá.

Eu saí, vim pro trabaio
fiz da vida um atrapaio
só penso mermo em vortá.


(03/agosto/2009)

SAUDADES E ESPERANÇA

(Carlos Celso-CARCEL)


Ainda sinto saudades
quando me lembro das trelas
tão infantís como aquelas
no meu tempo de menino
já não mais tão pequenino
grandinho, pequeno rapaz
uma criança sagaz
tempo sem tantas maldades.

Hoje sexagenário
vida quase secular
triste fico a meditar
naquele tempo passado
no coração preservado
que já bate lentamente
tenho um mundo que o presente
julga até imaginário.

Já havia peripécias
sempre houve, mas amena,
com consequência pequena
fácil de se resolver
também havia o sofrer
com o seu gráu suportável
hoje o mais lamentável
são as consciências néscias.

O respeito se dissolve
desarmonia no lar
dispersão familiar
aquilo que era sagrado
parece desconjurado
mas o mundo é o mesmo
o ser é que vive a esmo
e nessa entranha se envolve.

Vou conservar meus preceitos
meus arbítrios discernir
esperar pelo devir
vivendo as minhas lembranças
cultivando as esperanças
de morrer sem empecilhos
de ver meus netos e filhos
a preservar bons conceitos.


(19/dezembro/2008)

PRÓXIMAS NOITES

(Carlos Celso-CARCEL)


Mais uma noite infeliz passei,
vaguei ainda cedo pelas ruas
desesperado por notícias tuas
ou mesmo encontrá-la, não te achei.

Meu coração gritante reclamava,
até doía por desejar vê-la;
oh! como é triste meu viver sem tê-la;
meu pensamento só por tí chamava.

Voltei pra casa e na cama fria
joguei meu corpo numa agonia
incontrolável a sentir açoites.

Chicoteado pela madrugada,
amanheceu e eu não dormí nada;
como serão minhas próximas noites?


(04/junho/2004)

MINHA LAMÚRIA

(Carlos Celso-CARCEL)


Eu, apenas eu, só eu
na mente um turbilhão de lembranças
vendo a escassez das esperanças
o descumprir das leis do galileu.

Eu, apenas eu, quem sou?
ninguém! diante da disparidade
vendo a casta, a plebe, a humanidade
a mendigar um pão que não restou.

Eu, inerte, apenas vejo
e triste os meus olhos lacrimejo
pela penúria de um povo que almeja.

Eu, sei que há mesas onde não há pão
enquanto em outras mesas com faizão
falta amor e tudo mais sobeja.


(23/dezembro/2007)

UM VELHO

(Carlos Celso-CARCEL)


Hoje me dói a cabeça
a visão já não é tanta
cada vez mais a voz rouca
me faz com que eu padeça
viver é bom e encanta
porém já envelhecido
me sinto quase vencido
com vitalidade pouca.

Cabelos embranquecidos
rugas mudando o semblante
audição deficiente
todos os membros vencidos
metamorfose humilhante
me faz a cada momento
ir tragando o sofrimento
da velhice deprimente.

Ando, vejo, ouço, falo
nenhum sentido perdí
porém cada um ameno
não há jeito de mudá-lo
agora que percebí
como a velhice é cruel
nos transforma em menestrel
depois nos faz tão pequeno.

Hoje apenas um volume
me sinto ocupando espaço
do passado só lembrança
mudei até de costume
aceitei sem embaraço
que a morte cruel e fria
me acompanhe noite e dia
segurando no meu braço.

Quando velho só a morte
é o almejo da gente
às vezes até cortês
com a gente, é nossa sorte
mesmo assim bem consciente
peço apenas pra lembrar
quando meu dia chegar
que viví entre vocês.

VERSOS ADVERSOS

(Carlos Celso-CARCEL)


Quisera fazer versos só de amor,
mas é difícil, as peripécias fazem
que sentimentos bonitos se atrasem
e até se misturem com a dor.

É agradável receber carinho
e não o é se receber reveses,
porém os dois na vida, tantas vezes,
nos faz feliz ou não no próprio ninho.

Por isto que um verso às vezes triste
nos quer dizer apenas que existe
vários momentos na vida de um ser.

Há circunstâncias que nos faz amar,
há outras que nos faz repudiar
e entre tantas meus versos vou fazer.

MAIS UMA NOITE

(Carlos Celso-CARCEL)


Quando me deito olho no vazio
em minha frente eu te vejo linda
na cama gélida eu sinto frio
a noite é longa, parece infinda.

As horas passam, já é madrugada
tudo é silêncio, eu estou sozinho
sem sono ouço apenas a pancada
do coração que bate bem baixinho.

Amanheceu, a passarada canta
fragilizado um corpo se levanta
e este pobre corpo é o meu.

Abro a porta vejo que é dia
mais uma noite e sem alegria
até pareço um corpo que morreu.


(16/julho/2007)

EU SONHEI CONTIGO

(Carlos Celso-CARCEL)


Eram dourados os cabelos dela,
olhos azuis, o nariz afilado,
a boca sensual, como aquela
jamais eu ví, o corpo esculturado.

Busto esbelto, a cintura fina,
quadrís moldado como feito à mão,
as pernas pareciam de menina,
bem redondinhas mas com perfeição.

Em todo o corpo a pele macía
sentí sem apalpar só no que via
alí onde a beleza fez abrigo.

Veio a tristeza quando despertei
sentei na cama e alí recordei
essa imagem, eu sonhei contigo.


(08/julho/2007)

SAUDADE DE SERTÂNIA

(Carlos Celso-CARCEL)


Minha memória pint'uma aquarela
onde reflete a singular beleza
que é retratada pela natureza
em tí, que entre tantas, és mais bela;
vejo no grande quadro essa janela
que mostra-te, SERTÂNIA, com destreza.

Nesse teu seio quente acolhedor
fui abrigado como um filho nato
e numa mútua transição, de fato,
eu te amei e tive o teu amor;
hoje, SERTÂNIA, sem o teu calor,
ausente, sinto-me um abstrato.

Fui andarilho, percorrí quadrantes,
em outros meios eu fui abraçado,
até feliz eu fui, mas... fascinado
por tí, SERTÂNIA, ví os meus instantes
se transformando em fases consoantes
a um amor eterno incontrolado.

Só quando durmo, se isto consigo,
é que a saudade de mim divorcia,
mas... se não durmo, passo noite e dia,
mesmo distante, a conviver contigo
buscando no silêncio um abrigo
que acalente minha nostalgia.

Não é apenas o simples cotejo
de um poeta amante e saudoso
desse teu ego que o fez ditoso
que possa transformar-te em vil lampejo,
é o que tens e transparente vejo
qual fosse um ícone misterioso.


(Sertânia é uma cidade do interior Pernambucano, há + ou - 300 km. do Recife, sua capital. Lá cheguei, viví por mais de duas décadas e hoje canto-a saudoso onde quer que eu esteja) 10/abril/2008

RECORDAÇÃO DA ROÇA

(Carlos Celso-CARCEL)


Eu acordava cedinho
a escutar a gralhada
musical da passarada
orquestra de passarinho.

O sol na casa adentrava
pelas frestas da parede
eu levantava da rede
pois o dia clareava.

Abria a porta e via
no terreiro a alegria
dos meus poucos animais.

Ah! como lembro da roça
da minha pequena choça
tempos que não voltam mais.


(09/fevereiro/2008)

EVASÃO

(Carlos Celso-CARCEL)


Alguns instantes só, que satisfazem,
me outorgou a vida em um dia;
um misto de rancor e alegria
era todo o conteúdo que dispunha.

Tal evidência que jamais supunha
acontecera em forma de miragem,
o surgimento terno da imagem
cândida, doce, simplesmente a tua.

Das coisas belas que se insinúa,
insinuei errado tu ficares,
porque, não sei, te fostes ou me fui.

Hoje meu peito é sólido que rui
na condição daquilo que concreto,
foi incompleto, tornou-se abstrato.

sábado, 29 de agosto de 2009

FLORES PRA VOCÊ

(Carlos Celso-CARCEL)


Olho as flores tão belas no jardim
que nada dizem, as flores não falam
porém no perfume que exalam
sinto dizer alguma coisa a mim.

As flores cujo aroma me embriaga
parecem entender o que eu sinto
a vida com sabor de absinto
amarga, sem beleza, triste e vaga.

Se as flores silenciam, não respondem
às emoções que num bouquet se escondem
que faço para o meu gesto se vê.

Pois cada flor que eu colhí beijei
com muito amor e com carinho juntei
fiz um bouquet de flores pra você.


(29/julho/2007)

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

O IRMÃO POBRE

(Carlos Celso-CARCEL)


Quem é esse homem
que me bate à porta?
senhor! não importa,
porque sinto fome.

Que tenho com isso
se nem te conheço?
senhor! eu padeço,
porque és omisso?

Não vês diferença
na minha presença
da tua então?

Não vejo; afinal,
porque sou igual
a tí, meu irmão.

AO ENGANADO

(Carlos Celso-CARCEL)


Nessa beleza abundante
onde enganado te aprazes
está o caminho errante
que fabrica satanases.

O mundo é vasto e bonito,
seu caminho amaciado
nele o seu mestre é perito
em te trazer enganado.

Vês a beleza aparente
numa falsa natureza
que aos teus olhos reluz.

Porque não olhas de frente
e enxerga com clareza
a bondade de Jesús?

NÃO TENHA MEDO

(Carlos Celso-CARCEL)


Se te perguntar
se me amas, por certo dirás
que tens medo porque tempo atrás
um casamento teu não deu certo.

Dirás, também...
que não vais alimentar amor
e sofrer novamente uma dor,
tú preferes só me querer bem.

Não tenha medo, amor...
de aceitar meu amor sincero
que me ames é o que mais quero
tú não deves me renunciar.

Não tenha medo, amor...
não descarte a felicidade
dê ao seu coração liberdade
de viver bem feliz e me amar.


(Estes versos foram feitos para uma melodia; como não sou músico e também não foi gravada esquecí-a. Tens liberdade para gravar, caso queiras, mas conservando a autoria).

EU TE QUERO TODINHA

(Carlos Celso-CARCEL)


Teus cabelos com a maciez da pluma
quero entrelaçar nos dedos meus
os teus olhos de perto quero em suma
contemplá-los feliz por serem teus.

Tuas faces de pele aveludada
com carinho quero acariciar
teu nariz dessa forma afilada
levemente também quero tocar.

Tua boca tão bela, sensual
num suave impacto carnal
quero tê-la a sufocar a minha.

Esse escultural corpo que é teu
eu o quero bem coladinho ao meu
finalmente eu te quero todinha.


(19/julho/2007)

MANÉ CILORÃO

(Carlos Celso-CARCEL)


Ninguém mais fala no nome
inté nem no apelido
tá todo mundo esquecido
mas eu me alembro do ome.

Se fosse rico ou famoso
todo mundo se alembrava
inté omenageava
se amostrando orgulhoso.

Era um eletricista
pra eu até um artista
nessa sua profissão.

Pobe, sem fama, sem nada
esse humirde camarada
era Mané Cilorão.


(Modesta homenagem à figura folclórica em Sertânia-PE. do eletricista Manoel)

03/agosto/2009

TRANSFORMAÇÃO

(Carlos Celso-CARCEL)

Já não ouço respingar
no meu quarto sobre o teto
a chuva que com afeto
um dia pude escutar.

Hoje sento no meu leito
muitas vezes pela noite
e sinto forte o açoite
bater dentro do meu peito.

Aquela imagem de outrora
que ornava minha mente
sem despedir foi embora.

Sonho de tanta beleza
se transformou de repente
em dor, angústia e tristeza.


(30/junho/2009)