domingo, 29 de novembro de 2009

O AMARGO DOCE

(Carlos Celso-CARCEL)


Amar é doce, amar é aprazível,
também existe no amor a amargura,
às vezes num enlevo de doçura
há peripécias que nos torna desprezível.

Amar, um sentimento consequente
que atua em nossa sensibilidade,
causa desejos, até cria saudade,
mas é sublime este dom que há na gente.

O amor é obra divinal da criação,
sua pureza simboliza o coração
e a doçura sua simboliza o mel.

Mas o amor é romantismo por instinto
e às vezes o fazemos absinto
que é flor, porém amarga como fel.

PROFESSORA

(Carlos Celso-CARCEL)


Ah! quem dera eu podesse
voltar a ser estudante
na tua escola tivesse
vaga para um postulante.

A ser um aluno teu
e receber teu ensino
esquecer o que aprendeu
voltar a ser um menino.

Assim por certo teria
teu carinho, teu bom trato,
tua ação acolhedora.

Eu nem sei como seria
se eu fosse mesmo de fato
teu aluno, professora.


(10/julho/2007)

PORQUE?

(Carlos Celso-CARCEL)


Não é de gosto que profiro a mágoa,
não é com risos que profiro a dor,
não é por sede que derramo a água
e se me aqueço não é por calor.

Será por ódio que você me xinga?
ou por bravura que você me insulta?
que mal te fiz, de que você se vinga?
porque sou triste e você exulta?

Sou transparente no que sinto e quero,
até magoado mesmo assim venero
você com seu amor tão adverso.

Sinto uma dor pungente no meu peito
e submisso a esse teu conceito
vivo distante do teu universo.

PALHAÇO DA VIDA

(Carlos Celso-CARCEL)


O grande circo abre as cortinas,
você deslumbra jovial em minha frente,
tua beleza com poder incontinente
somente a tí mostrava entre outras meninas.

Meu pobre olhar só te enxegava a sós,
apesar da multidão que te cercava
eu te queria, eu já te amava,
a vida, então, abriu espaço a nós.

E neste espaço juntos convivemos,
eu e você casamos e fizemos
uma família bela e querida.

Mas teu amor a mim era escasso
a ponto de fazer-me este palhaço
que sou no picadeiro desta vida.

sábado, 28 de novembro de 2009

QUE SEJAS FELIZ

(Carlos Celso-CARCEL)


No transcorrer deste dia
em que fazes primavera
nesta vontade quimera
fico em minha fantasia.

Mas que o Deus atuante
derame sobre tí, graça
e na tua vida faça
felicidade constante.

Que os anos se multipliquem
e contigo apenas fiquem
coisas que te dão prazer.

Quero que sejas feliz
teu viver nada condiz
com meu modo de viver.

QUE PAI SOU EU?

(Carlos Celso-CARCEL)


Um grande pai pra tí desejei ser,
tive alegrias, também fiquei triste;
eras pequeno, nada disto viste
e se visses, como entender?

O sentimento é coisa abstrata,
a gente o tem e dá, não se percebe;
às vezes, quando em troca se recebe,
toda alegria no ser se retrata.

Naturalmente vê-se no semblante
o amor luzente em forma irradiante
quando a se sentir felicidade.

Hoje, porém, chego a sentir tristeza,
de nada mais eu posso ter certeza.
nem mesmo que pai sou, sem vaidade.

QUATRO DECÊNIOS DA IDA DO PAPAI

(Carlos Celso-CARCEL)

Hoje quarenta anos são passados,
com nitidez, a triste despedida
lembro-me, saía desta vida;
quatro decênios já são completados.

Te fostes, aqui ficou só a lembrança,
teus gestos, tua voz, teu semblante,
tanta peripécia conflitante
em minha vida, pois fiquei criança.

Hoje sou adulto e me reflete
a mente aquele dia vinte e sete
de maio, me fazendo relembrar.

Papai! que Deus te dê como presente
sua benção, para que aqui contente
eu fique e permaneça sem chorar.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

REMINISCÊNCIA

(Carlos Celso-CARCEL)

Depois de velho, mas não muito idoso,
ultrapassando um pouco os cinquenta
agora, no entanto, já saudoso
dos dez, dos vinte, trinta, dos quarenta,
porém, um grande amor que alimenta
meu coração cansado, envelhecido,
é tudo que me deixa convencido
que amar você só foi maravilhoso.

Lembro-me agora de viva memória,
um dia claro, já era tardinha,
alí tinha início nossa estória,
você tão linda, era uma vizinha
que atingiu de cheio a alma minha
quando nos vimos nos quintais das casas
meu olhos cintilaram como brasas
e por você a Deus pedí vitória.

Você fugiu de mim, te procurei
porque já te amava desde então;
por insistir demais te encontrei,
assim vitalizei meu coração
que transbordante de tanta paixão
te abrigou no fundo com carinho
e nós, os dois, fizemos nosso ninho
que entre erros e acertos conservei.

Hoje depois de tantos anos idos,
depois de ultrapassarmos empecilhos,
do nosso amor nós vemos já crescidos
os frutos à quem nós chamamos filhos,
o nosso trem jamais saiu dos trilhos,
a nossa vida a dois é uma viagem
em que o amor fizemos de bagagem
e os bons momentos jamais esquecidos.

Te agradeço, amor, por ser precisa
por existires, por ter te encontrado;
tal qual a flor necessita da brisa,
também preciso de você ao lado;
meu coração por tí foi resgatado,
me fiz teu súdito, Maria Luiza
eu serei sempre teu sacerdotado,
sempre serás minha sacerdotisa.

(Carlos Celso-CARCEL)


Quatro paredes, o teto, o solo frio e eu;
o silêncio que conforta ou que até martiriza.
da porta por suas frestas sinto o sopro da brisa
de fora ouço corrente a água, chove ou choveu.

E aqui no meu refúgio é imensa a solidão,
vejo luzes no seu teto a iluminar e aquecer;
sei que está claro, está quente, mas pareço nada ver,
na verdade sinto frio e só vejo escuridão.

Só imagino quão belo é o universo da vida
e dele quão distante fica a pessoa perdida
a flutuar nessa névoa como fosse o próprio pó.

Porém é como se fosse, porque é gente, é ser
ausente desse universo, mergulhado no sofrer;
é alguém abandonado, sem ninguém, um ímpar, só.

SOLIDÃO ACOMPANHADA

(Carlos Celso-CARCEL)


Estou entre vocês, porém, sozinho;
não tenho pais porque já faleceram,
esposa e filhos que me envelheceram
seriam aconchegos do meu ninho.

Que ninho, que nada, estou jogado à toa,
falta-me apoio da mulher que desposei,
autoridade com os filhos já nem sei
se da minha voz cansada e rouca ainda ecoa.

É triste envelhecer como envelheço,
será, meu Deus, que isto eu mereço?
meu próprio sangue me fazendo rejeitado?

Sou solitário mesmo entre tantos,
minh'alma desolada chora prantos
para regar a solidão acompanhada.

SEM

(Carlos Celso-CARCEL)


A terra por onde ando
talvez tenha até palmeira
e sabiás laranjeira
sobre a folhagem cantando.

Eu é que no meu reduto
cerebral sem devaneio
mesmo um pequeno gorjeio
faz tempo que não escuto.

Ouço sussurros e gritos
às vezes sons esquisitos
no meu subconsciente.

Canto aqui a minha terra
onde um grande exílio encerra
à quem chamam brava gente.


(06/fevereiro/2006)

SENTENÇA DE TE AMAR

(Carlos Celso-CARCEL)

Se não gostas de ouvir falar de amor
acho estranho mas mesmo assim respeito
outras coisas eu tenho no meu peito
que transforma alegria em dissabor
essa metamorfose que é pungente
desenvolve de modo inconsequente
um constante sentir chamado dor.

Falarei na modéstia dos meus versos
simplesmente de mim na solidão
gostaria de unir os universos
que talvez desse mais inspiração
porém esse gostar é devaneio
entre eu e você há um bloqueio
onde a sós eu te vejo em multidão.

O pior é saber que tudo sabes
que nessa transbordância do meu peito
entre dores e mágoas também cabes
e habitas impondo um preconceito
sem olhar qualidades ou pudor
sem medir na pessoa o seu valor
tú pareces só ver em mim defeito.

Também tenho virtudes, isto sei
mas não vês, não percebes, que fazer?
te mostrar as virtudes eu tentei
mas de mim nada queres tu saber
o amor não o vemos mas existe
sentimento que neste ser persiste
judiando de um peito a sofrer.

Mas o amor que não queres escutar
é o amor que transborda no meu ego
não reclamo a sentença de te amar
à cadeia dos sonhos me entrego
sofrendo por não ser correspondido
sei que estou na sentença incumbido
de carregar a dor que já carrego.

SEM EXPLICAÇÃO

(Carlos Celso-CARCEL)


Se não te vejo entristeço,
se te vejo me alegro,
à tua imagem me integro
por isto tanto padeço.

Imagino que tu fazes
parte do meu pobre ser
e com este meu sofrer
parece até que te aprazes.

Mesmo assim eu sinto ainda
por existires tão linda,
felicidade incontida.

Não sei explicar direito
o que sinto no meu peito
só que és por mim querida.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

TENSÃO

(Carlos Celso-CARCEL)

Dias passaram-se, não mais te ví,
desde aquele em que presenciei
teu mesmo corpo, teu mesmo semblante,
só que não era mais irradiante
como nas vezes que te ví sorrir,
como nas vezes que te abracei.

Estavas sério, o olhar oculto;
tive certeza que você dormia,
porém, de tua face palidez
deu à minha certeza invalidez
a provocar-me, a fazer insulto
à curiosidade que eu sentia.

Só percebí depois que tú estavas
numa acomodação a mim estranha;
um ataúde negro, envidraçado,
sobre o teu corpo todo ajardinado,
somente o rosto é que me mostravas
numa seriedade tão tamanha.

Era demais pequeno para tanto,
não entendia, ainda, a realidade,
porém, parece que a intuição
fez marejar profundo o coração;
sentí no íntimo deramar meu pranto
e comecei, então, sentir saudade.

Outros, de parte me observavam
e assistindo ao que sucedeu,
de um a um baixaram-se, falaram-me;
recordo, docemente acalentaram-me,
e entre carícias me pronunciavam
ríspidamente: o teu pai morreu.

(Por ocasião da chegada do féretro do meu pai em Recife/PE, que havia falecido na Bahia)

TEUS OLHOS AZUIS

(Carlos Celso-CARCEL)


Nem mesmo no azul de uma safira
que brilha de maneira singular
o brilho reluzente se insira
dos teus olhos azuis a cintilar.

Nem mesmo no azul do oceano
que suas águas mostra no infinito
se pode comparar de modo ufano
os teus olhos azuis de olhar bonito.

Nem mesmo no azul do grande céu
as nuvens a formar imenso véu
aos teus olhos azuis não nos conduz.

Porque são dádivas da natureza
em tí símbolo vivo da beleza
são lindos esses teus olhos azuis.

(21/julho/2007)

TRABALHADOR FELIZ

(Carlos Celso-CARCEL)


Me sentei no banquinho lá da praça,
contemplei o enorme arranha-céu,
até rí, quando ví que não arranha,
mas o povo na sua artimanha
esquecendo a torre de babel,
colocou esse nome, até sem graça.

Mas, alí, meditando me lembrava
quantas mãos levantaram grande prédio;
pedra, ferro, argamassa, ferramenta,
suor quente do rosto complementa
essa metamorfose de intermédio
que o grande gigante levantava.

Hoje olha-se, vê-se imponente,
vai-e-vém, entra e sai todos os dias,
paletó e gravata a vestimenta
de um povo que hoje lhe frequenta
ministrando as suas primazias;
se conhece, nem lembra, aquela gente.

Porém, lembro-me, pude um deles ser,
duas mãos calejadas entre tantas,
sinto, ainda, nos lábios o salgado
do suor que por mim foi derramado,
mas eu posso dizer que, como plantas,
monumentos enormes fiz crescer.

O diploma que na parede falta
eu o tenho nas mãos, são esses calos;
se não ouço chamar-me de doutor,
orgulhoso, ouço trabalhador;
numa vida de poucos intervalos
ser feliz não é ser de classe alta.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

ELA SÓ VÊ MEUS DEFEITOS - NÃO VÊ MINHAS QUALIDADES

Mote: Asa Branca do Ceará
Glosas: Carlos Celso-CARCEL

Quando um casal se conhece
troca juras de amor
cada qual mais sedutor
o seu parceiro enaltece
nada ruim aparece
só se enxerga bondades
comigo eu sinto saudades
mudaram todos preceitos
ELA SÓ VÊ MEUS DEFEITOS
NÃO VÊ MINHAS QUALIDADES.

Pouco tempo paquerei
e dando toda atenção
quando abrí meu coração
de repente namorei
como aconteceu não sei
perdí minhas vaidades
o que já fora beldades
mudou e sentí efeitos
ELA SÓ VÊ MEUS DEFEITOS
NÃO VÊ MINHAS QUALIDADES.

Sei que não sou cem por cento
nas bondades que possúo
mas na vida me sitúo
a ter sempre bom intento
por isto as vezes lamento
quando me fazem maldades
vítima de falsidades
sonegados meus direitos
ELA SÓ VÊ MEUS DEFEITOS
NÃO VÊ MINHAS QUALIDADES.

Casamos e a filharada
a cada ano nascendo
pouco a pouco foi crescendo
era grande a criançada
que ralei pra ver criada
vivendo realidades
a buscar capacidades
enfrentando preconceitos
ELA SÓ VÊ MEUS DEFEITOS
NÃO VÊ MINHAS QUALIDADES.

(01/novembro/2009) enviado pelo poeta WELLINGTON VICENTE de Porto Velho-RO.-BR.
Obrigado, poeta!