segunda-feira, 23 de novembro de 2009

TENSÃO

(Carlos Celso-CARCEL)

Dias passaram-se, não mais te ví,
desde aquele em que presenciei
teu mesmo corpo, teu mesmo semblante,
só que não era mais irradiante
como nas vezes que te ví sorrir,
como nas vezes que te abracei.

Estavas sério, o olhar oculto;
tive certeza que você dormia,
porém, de tua face palidez
deu à minha certeza invalidez
a provocar-me, a fazer insulto
à curiosidade que eu sentia.

Só percebí depois que tú estavas
numa acomodação a mim estranha;
um ataúde negro, envidraçado,
sobre o teu corpo todo ajardinado,
somente o rosto é que me mostravas
numa seriedade tão tamanha.

Era demais pequeno para tanto,
não entendia, ainda, a realidade,
porém, parece que a intuição
fez marejar profundo o coração;
sentí no íntimo deramar meu pranto
e comecei, então, sentir saudade.

Outros, de parte me observavam
e assistindo ao que sucedeu,
de um a um baixaram-se, falaram-me;
recordo, docemente acalentaram-me,
e entre carícias me pronunciavam
ríspidamente: o teu pai morreu.

(Por ocasião da chegada do féretro do meu pai em Recife/PE, que havia falecido na Bahia)

Nenhum comentário: